OFICINA DAS MAÇANETAS, ALUCINAÇÕES E VISÕES

OFICINA DAS MAÇANETAS, ALUCINAÇÕES E VISÕES

domingo, 5 de dezembro de 2010

A INOCÊNCIA DO SÁBIO

"Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra? Essa idéia nos parece estranha. Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível comprá-los?Cada pedaço desta terra é sagrado para meu povo. Cada ramo brilhante de um pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penumbra na floresta densa, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados na memória e experiência de meu povo. A seiva que percorre o corpo das árvores carrega consigo as lembranças do homem vermelho.Os mortos do homem branco esquecem sua terra de origem quando vão caminhar entre as estrelas. Nossos mortos jamais esquecem esta bela terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela faz parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia, são nossos irmãos. Os picos rochosos, os sulcos úmidos nas campinas, o calor do corpo do potro, e o homem - todos pertencem à mesma família.Portanto, quando o Grande Chefe em Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra, pede muito de nós.O Grande Chefe diz que nos reservará um lugar onde possamos viver satisfeitos. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos. Portanto, nós vamos considerar sua oferta de comprar nossa terra. Mas isso não será fácil. Esta terra é sagrada para nós.Essa água brilhante que escorre nos riachos e rios não é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados. Se lhes vendermos a terra, vocês devem lembrar-se de que ela é sagrada, e devem ensinar as suas crianças que ela é sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos fala de acontecimentos e lembranças da vida do meu povo. O murmúrio das águas é a voz de meus ancestrais.Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede. Os rios carregam nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem lembrar e ensinar a seus filhos que os rios são nossos irmãos e seus também. E, portanto, vocês devem dar aos rios a bondade que dedicariam a qualquer irmão.Sabemos que o homem branco não compreende nossos costumes. Uma porção da terra, para ele, tem o mesmo significado que qualquer outra, pois é um forasteiro que vem à noite e extrai da terra aquilo de que necessita. A terra não é sua irmã, mas sua inimiga, e quando ele a conquista, prossegue seu caminho. Deixa para trás os túmulos de seus antepassados e não se incomoda. Rapta da terra aquilo que seria de seus filhos e não se importa. A sepultura de seu pai e os direitos de seus filhos são esquecidos. Trata sua mãe, a terra, e seu irmão, o céu, como coisas que possam ser compradas, saqueadas, vendidas como carneiros ou enfeites coloridos. Seu apetite devorará a terra, deixando somente um deserto.Eu não sei, nossos costumes são diferentes dos seus. A visão de suas cidades fere os olhos do homem vermelho. Talvez seja porque o homem vermelho é um selvagem e não compreenda.Não há um lugar quieto nas cidades do homem branco. Nenhum lugar onde se possa ouvir o desabrochar de folhas na primavera ou o bater das asas de um inseto. Mas talvez seja porque eu sou um selvagem e não compreendo. O ruído parece somente insultar os ouvidos.E o que resta da vida se um homem não pode ouvir o choro solitário de uma ave ou o debate dos sapos ao redor de uma lagoa, à noite? Eu sou um homem vermelho e não compreendo. O índio prefere o suave murmúrio do vento encrespando a face do lago, e o próprio vento, limpo por uma chuva diurna ou perfumado pelos pinheiros.O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas compartilham o mesmo sopro - o animal, a árvore, o homem, todos compartilham o mesmo sopro. Parece que o homem branco não sente o ar que respira. Como um homem agonizante há vários dias, é insensível ao mau cheiro. Mas se vendermos nossa terra ao homem branco, ele deve lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar compartilha seu espírito com toda a vida que mantém. O vento que deu a nosso avô seu primeiro inspirar também recebe seu último suspiro. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem mantê-la intacta e sagrada, como um lugar onde até mesmo o homem branco possa ir saborear o vento açucarado pelas flores dos prados.Portanto, vamos meditar sobre sua oferta de comprar nossa terra. Se decidirmos aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais desta terra como seus irmãos.Sou um selvagem e não compreendo qualquer outra forma de agir.Vi um milhar de búfalos apodrecendo na planície, abandonados pelo homem branco que os alvejou de um trem ao passar. Eu sou um selvagem e não compreendo como é que o fumegante cavalo de ferro pode ser mais importante que o búfalo, que sacrificamos somente para permanecer vivos.O que é o homem sem os animais? Se todos os animais se fossem o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Pois o que ocorre com os animais, breve acontece com o homem. Há uma ligação em tudo.Vocês devem ensinar às suas crianças que o solo a seus pés é a cinza de nossos avós. Para que respeitem a terra, digam a seus filhos que ela foi enriquecida com as vidas de nosso povo. Ensinem as suas crianças o que ensinamos as nossas que a terra é nossa mãe. Tudo o que acontecer à terra, acontecerá aos filhos da terra. Se os homens cospem no solo, estão cuspindo em si mesmos.Isto sabemos: a terra não pertence ao homem; o homem pertence à terra. Isto sabemos: todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família. Há uma ligação em tudo.O que ocorrer com a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a si mesmo.Mesmo o homem branco, cujo Deus caminha e fala com ele de amigo para amigo, não pode estar isento do destino comum. É possível que sejamos irmãos, apesar de tudo. Veremos. De uma coisa estamos certos - e o homem branco poderá vir a descobrir um dia: nosso Deus é o mesmo Deus. Vocês podem pensar que O possuem, como desejam possuir nossa terra; mas não é possível. Ele é o Deus do homem, e Sua compaixão é igual para o homem vermelho e para o homem branco. A terra lhe é preciosa, e ferí-la é desprezar seu criador. Os brancos também passarão; talvez mais cedo que todas as outras tribos. Contaminem suas camas, e uma noite serão sufocados pelos próprios dejetos.Mas quando de sua desaparição, vocês brilharão intensamente, iluminados pela força do Deus que os trouxe a esta terra e por alguma razão especial lhes deu o domínio sobre a terra e sobre o homem vermelho. Esse destino é um mistério para nós, pois não compreendemos que todos os búfalos sejam exterminados, os cavalos bravios sejam todos domados, os recantos secretos da floresta densa impregnadas do cheiro de muitos homens, e a visão dos morros obstruída por fios que falam.Onde está o arvoredo? Desapareceu.Onde está a águia? Desapareceu.É o final da vida e o início da sobrevivência.



AUTOR: Chefe Seattle

terça-feira, 30 de novembro de 2010

RÉDIAS DO EIXO

Pêndulos
Num templo...

Noites de
Surra...

Cuspo um
Trovão em
Uma insônia
Desenxabida
E pronto...
A esta guerra
Minh’alma
Foi vendida...
E pronto
E pronto,
A maldição
Não foi perdida...

Mais uma
Missão...
Mais uma
Busca...
Por qualquer
Labirinto...

Vou rastejando,
Rastejando...
Rastejando por
Algum túnel,
À caça do fogo...

Mais uma estrela
Incendeia os lados
Das ruínas envidraçadas,
Na cidadela de feras...

Penduro-me
Em uma asa verde...

Perfuro a gruta
De cristal...

Avisto o castelo
Onde Blake sonhou...

A fresta de uma
Porta a me puxar...

Um certo lagarto
Torna-se fio condutor
De certa serpente...

O mutável leste
Acaricia mais um
Sótão...
Outro porão se bronzeia
Num fluido de sol...
Marejados por borboletas
Cinéticas...

Denuncia-se um
Outro rastro...
Um novo redemoinho
Noutro vórtice...
Uma nova vertigem
De um outro portal...
Para outro estranho lugar... 






Autor: BACO.
Redigido, editado e psicografado por:
Max Honorato, o maldito.


UM RITO DE PASSAGEM NUM DOS MUNDOS INVISÍVEIS


Lilith deu-me cinco
De suas mil faces,
E lançou-as
Como cinco faróis
Na densidade revolta
Do enegrecido mar,
Enquanto eu observo
Com olhos atentos
E contrários a si
Num mesmo tempo,
Esperando pelo obscuro,
Pelo desconhecido.
Quando começa resoluta
Uma serpente a se erguer,
E mover-se erótica
E lentamente a mim,
Me fazendo permanecer
Invalido, esperando
Pelo medonho.
Aproximou-se e sibilou
Algo como uma nênia
Espectral. E enroscou sua pele
Fria e escorregadia em mim,
E forcejou, comprimiu, espremeu
Até ver um pouco de
Minha substância escarlate.
E eu vi que ela era a “grande cobra”,
E a “serpente do mundo”, e todas elas...
E sua forma abraçava toda criação,
E eu pude ver o fim de suas
Dimensões descansando nos galhos
De uma arvore, atrás de mim.
E por fim ela mordeu-me, e,
Com voz profética e homérica,
Anunciou que havia me escolhido para a morte,
Mas também para ressurgir com ela.
E caiu uma leve surdez
Na púrpura inércia que nos abarcava,
E tudo perdeu a circulação.
Quando então, vi uma sombra esgueirar-se,
Para perto da imaculada abstração.
Era um lobo, e me trouxera narcisos.
E falou sobre os quatro elementos,
E disse que eu pertencia ao norte.
Disse que devo andar lado a lado com o sul.
E que por todo oeste tenho que vagar.
E que para que eu chegue ao meu destino
O leste é o lugar para recomeçá-lo.
E disse também que a floresta
De salgueiros, assim como todos,
Sempre estarão sendo observados
Por aqueles que governam e confortam-se
Nas estrelas do amanhecer e do anoitecer.
E tudo contemplava-se em poder.
Tudo sustentava-se numa energia
Que se apoderava de mim.
E enquanto eu passava por aquela metamorfose
Percebia que era um logos completo em si,
E em ininterrupta construção e reconstrução,
E mais e mais quimeras apareciam,
Mas eram capazes de estimular
As vias sensíveis, através da música...
E as criaturas e ex-criaturas brincavam,
Gritando por aquele momento de insensatez e de alegria.
E nós dançávamos, e dançávamos, e dançávamos...
E os instantes acabavam em dias,
Viviam-se como séculos, como séculos!








Autor: BACO.
Redigido, editado e psicografado por:
Max Honorato, o maldito.

 

domingo, 28 de novembro de 2010

ASSIM ME FALOU O SÁBIO

Dê-me tua mão,
Pois hoje te levarei além...
Além dos arredores da cidade,
A fim de desvendar os mistérios do mar
E as virtudes da noite!

Dê-me teus ouvidos
E lhe direi que encontrarás
Alegria na criatividade do ilícito
Paraíso das ervas naturais!

Juntos estaremos
Quando livres e ébrios caminharmos
Pelos campos dionisíacos abençoados pelo vinho,
Que excitam as ninfas que nos aguardam
Para o êxtase do amor!

Já bêbados estaremos,
Mas em volta do fogo dançaremos,
E o feiticeiro xamã ao transe nos guiará,
Enquanto a lua e os espíritos da floresta
Estarão a cantar!





Autor: BACO.
Redigido, editado e psicografado por:
Max Honorato, o maldito.


CENAS DA VIDA SUÉCA

Um sorriso seguro
E um olhar tranqüilo,
Podem no fundo
Esconder o desespero
Que sólido se cala,
Germinando...
Num deleite profundo
O gosto pelo absurdo,
De cair no desconhecido
Destino irreversível

Jenny querida,
Não vá e não fique,
Pois nada existe.

Isolou-se ou isolaram-na?
Amor ou a morte?
Razão que não pode?
Por onde se escondem
Os monstros seus,
Enquanto tu curas as almas?
Morrem ou matam-na pelo ar?

Jenny querida,
Não vá e não fique,
Pois nada existe.






Autor: BACO.
Redigido, editado e psicografado por:
Max Honorato, o maldito.