OFICINA DAS MAÇANETAS, ALUCINAÇÕES E VISÕES

OFICINA DAS MAÇANETAS, ALUCINAÇÕES E VISÕES

sexta-feira, 27 de julho de 2012


Pois sim, gosto do escuro,
Porque gosto dos lençóis,
Pois sim, tenho frio, tenho medo,
Tenho assombro do calor e da luz,

Da luz elétrica e da luz solar,
Da que alumia o rosto e
Da que espreita os ratos do espírito,
Da que olha e da que vê!

Sim, da luz, de toda e qualquer luz!

Tenho-me aqui, quietinho
A tecer emaranhados de aranhas,
A lograr mundos infinitos,
Bem agasalhado no escuro

Sem movimentos bruscos,
Sem voz que gargalhe ou chore,
Pois sim, tenho os tornozelos a ruir
E um destempero na alma,

Pois sim, preciso do escuro, amo-o!
Pois tenho medo de ver, de sentir a mim,
De sentir e ver a vida,
Que corre, corre e somente corre para além de mim.

Por isso, quero tudo menos a luz,
Menos o eu, menos o outro, que sente
E que respira e me vigia....

quarta-feira, 30 de maio de 2012


Todo movimento à consciência ou à inconsciência, todo gesto para a lucidez ou para o torpor, gera necessáriamente o protozoário do suicídio. O devir, única expressão justa que conheço sobre o sentido da vida, que carrega o movimento e seu contraponto, é um continuo diálogo simbiótico e ainda o motivo do caos. A luz e a sombra são comparsas de mesmo interesse. Sendo assim, o impulso suicida também, no seu ato, busca o mesmo que o instinto de preservação, não pretendendo, porém, a estética do absoluto, o atemporal e todo seu peso e sua natureza estéril. É a vida que nos intima, através do suicídio, a celebrar a tragédia, que a todo instante ocorre, a cada coisa que se evapora e vai encontrar outra forma de ser.

[Cá commeus botões]

sexta-feira, 18 de maio de 2012

CANÇÃO DO ESPÍRITO


Ó, Alma Augusta, não esmoreça diante do chão que se abre,
Ao cair de tuas ilusões de cetim.

O fauno dos primeiros folclores
Ainda embebeda-se e canta no jardim.

As formas do tempo decompositoras te enegrecem
 Os loiros cabelos da infância.

Os cabelos negros, enegrecendo-se mais, a cada crepúsculo
Dos teus deuses decadentes.

Mas a embriaguez, mesmo escassa, de agora,
Os sinos rompendo, bem de longe, em valsas,

São fantasmas da pureza de outrora,
Dão-te de Ícaro suas azas.

Então não te esmoreça estrela augusta,
Que o teu limbo ainda te espera num monte não muito alto.

AMOR MEU, MEU AMOR


Por Deus, amor meu,
Venha buscar-me pro outro lado,
Como tu ─A Deus!─ prometeu.

Por Deus, amor meu,
Que o peito meu, desesperado, esta selado,
Aguardando ─ Por Deus!─ o amor teu.

Por Deus, amor meu,
Há imenso pedaço de vão enclausurado,
Rezando ─ Á Deus!─ pelo amor teu.

Por Deus ou pelo Diabo, amor meu,
Venha tirar-me logo de baixo deste fardo
Que é existir ─ Obra de Deus ou Diabo!─ sem o amor teu.

quarta-feira, 28 de março de 2012

INEXISTENCIALISMO URBANO

De pensar não morro. De tanto morrer é que penso.
Outro dia de morte. ─ Me fuzila o despertador.

É hora chegada. Ônibus. Entro. Pago. Parto.
A luz queima solta por sobre as engrenagens urbanas,
Por sobre os cadáveres ocupados e apressados,
Sem lua, que com meu desejo dorme,
Enquanto cansado
Sigo contrariado,
Deveras contrariado

Que nem lá nem cá vivo─ O contra-senso do produto social ambulante.
Voam ociosas aves, entre o céu e o mar, no oco idílico, redundantes,
Não me sabem, as meninas que desvirginam de cor a pele, que na luz arde,
Não me sabem, o vento que alivia a paisagem, a luz que solta arde,
Não me sabem.
Não me sabem os multe celulares, as nuvens de satélites,
Redes emaranhadas de fios e sem fios, e-mails, operadores urbanos,
Engrenagens, nem as engrenagens me sabem.

Existo extinto, apenas no parafuso da morte cívica.

Vaga em mim, cheio, o oco do mundo, vão do eu universo.
Coluna, alicerce desse desejo Oasis, miragem do mundo questão,
Empalhador sensitivo e loquaz, que se agiganta em nossa pequenez.

Oh... Mundo questão, mundo idéia, mundo erro,
Será que alguém me deixou um e-mail?

.......................Será que alguém me deixou um e-mail ? .............. Será...
Será que ninguém me deixou ao menos um e-mail ? ...............
...............................................................

[Ecoa na imensidão do eu a indagação que circunda em cada solitário
Componente da grande rede urbana, surda, cega, muda e ausente de troca,
No grande espaço de sensação atemporal, grave, e faminto de almas,
enquanto a pergunta se inter-dimensiona, se extrapola preenchendo o
silencio que a acompanha, só.]

segunda-feira, 19 de março de 2012

MUNDO QUESTÃO

Vem reluzindo
Jesus descendo com a bíblia,
Junto com minha fatura
De celular
E o novo livro de schopenhauer...

Estou tão triste
E tão só,
Tão só
E tão triste estou
E não sei p’ronde ir,
Não sei p’ronde ir,
Eu não sei.

Vou aliviar a dor
Pelo mal que não sei
Se fiz, se deveria fazer,
Sei lá o que,
Comprando um novo carro
E depositar meu dizimo de temor sem fé
Depois da aula de filosofia...

Estou tão triste
E tão só,
Sem ruas e sonhos
E justiça,
Não sei aonde tenho que chegar
Por meio de que.

Estou sentado no meio
Da confusão urbana.
Todos alheios,
Rotos desfigurados,
Com uniformes,
Aloprados silenciosamente
Num mundo domestico,
Num mundo questão.

Depois vou namorar via mundial,
Via cabos e dados.
Tenho medo do outro.
O que será que ele pensa ?
Ele pensa igual, não. Tempo faz isso.
Não quero saber de outras caraminholas.

Estou tão triste
E tão só,
Sem ruas e sonhos
E justiça,
Não sei aonde tenho que chegar
Por meio de que.

sábado, 17 de março de 2012

(ENSAIO)

INSIGHT A. [DA CONDIÇÃO]

Chafurdo, desde não me lembro quando,
Num canal outro da compreensão. ─ Inexistência psíquica ?
Desci
Desci
Desci
Desci escadas abismais d’uma percepção outra.
Vejo toda realidade derreter-se
A luz de minhas janelas sensitivas.

O copo, a cadeira, a jarra d’água,
‘Trocaram as funções entre si.

Não descanso... Não sei mais o que é atirar pedras no lago,
Mas os símbolos, sonhos, afetações, são em excesso
E clareza tal que não me surpreendo sem eles ─
Não posso mais sentir a cisão do consciente com o inconsciente!



INSIGHT B. [VERDADEIRO INSIGHT A.]

... Passando
Por horas passando
Perplexo passo
Pensando
A cada passo
No cubículo ultrapasso
O compasso,
Em círculos, no seguinte desenlaço,
Verdadeiro insight A. dentro do quarto...

              “O filme: um rio corre, corre, corre e se socorre no mar... depois, folhas que fumam ‘nosso’ sonho americano, E.U.A, caem nos braços da terra da cova  de Vilmar Berna que é o mesma de João Romão... uma criança que personifica a morte no nascimento... “
......................................pen.....sa.......mento........ff....f........or...ma...ndo...........................

Daí que tal coisa é
Tal
Que por ser tal
Chamada de coisa é.
Tal coisa é
Tal
Que sendo tal
Sou coisa
Tal,
Tal qual,
qual tal,
Coisa é
Sendo coisa tal.

INSIGHT C. [PERCEPÇÃO DO AMBIENTE]

Os curandeiros de branco, com seus ouvidos decepados,
Me dão o café químico de sempre ─Penso, enquanto observam minha mímica,
Que esquisitos mais que eu eles são, ─”São”... uma
Palavra de gosto amargo aqui dentro─ Mas isso não importa.


INSIGHT D. [O FEITOÇO ANCESTRAL]

Tomo ou fui tomado pela figura do médium.
Lembro de Rimbaud e uma gargalhada maldita
Me assalta e escandaliza a voz─ Voz... Ou melhor
Vozes! Vozes! Vozes! Vozes!...

[Vozes no eco que retumba do vácuo atemporal]

Sim, visitam-me elas até sem forma─ Forma...
                                                                          [Sempre melhor no plural]
─ A todo momento me vêem, me descobrem as cobertas, me tiram as roupas
─ Medo tenho.─  Elas podem me matar!

INSIGHT E. [DAS FORMAS A.]

De noite, sempre de noite─ Será que prevalece ainda essa
Distinção ?
Uma menina loirinha, abraçada de chuva, me berra
Enquanto um curandeiro de brando a molesta.

Atravesso seus corpos sem dificuldade e sem resíduos no
Regresso de minhas mãos─ E ela berra,
Esperneia, esmurra em vão e só me esquece
Quando chega o café químico.

INSIGHT F. [PERCEPÇÃO DA CONTRADIÇÃO EXISTENCIAL]

Desconexoturvodiabólicomundo
Que, em meu febril estado psíquico e
Fisiológico, ─ Dilatadas as vias─ vigora
Em toda minha amplitude complexa.
─ De fato é uma transmutação extraordinária !
Não sou apenas maquillage
ET d’arte dramatique, não como um travesti, não!
Sofri, concerteza, até que médium ficasse,
A violação do D.N.A num tiro do tempo.
Morri e me voltei Deus, diabo;
Voltei-me cólera, suicídio e ressurreição perpétuos;
Volte-me eterno, poeta! Voltei-me nada
E por isso tudo!


INSIGHT G. [DA LIBERDADE NAS ALGEMAS]

As chaves daqui─ Que na verdade de meu corpo são! ─
Não são de minha jurisdição,
Somente dos curandeiros de branco.
                              Eles acham que as coisas são ou devem ser
Separadas e locadas numa vitrine─ Não percebem a
Beleza nas coisas insensatas
E a insensatez nas coisas belas─ Estão mortos
E sem salvação!

INSIGHT H. [GENELOGIA DA MUTAÇÃO A.]

Talvez esteja se perguntando o que disparou este
Tiro do tempo─ Eu também e finalmente me recordo─
E me fez vir parar em ingrato retiro.

Eu me embriagava e lia alguma coisa, ─ Não me force a tanto─,
                       Num susto vi meu cérebro
                       Dês-mem-brar-se no chão!
Fui a uma recém nascida estrada, [já morto], sem carros       
E identifiquei este cancro primata.
Meti-me numa mata, vi na clareira o fogo...
Veio a serpente erótica─ Paralitico revidei─ e ela me escalou
Escorregando pelo meu corpo. O sibilo de amor-ódio
E também a sentença “Eris sine morte reliqui
 te aeternam tristis”,  junto com a mordida ambígua,
Que experimentar me fez sua substância andrógena, maldita,
A mata que incendiava, o beijo!─ Eu nasci.

INSIGHT I. [COVA DO MUNDO EU A]

Agora eu olho para um espelho,
Olho para o mesmo homem que eu.
E tiro disto a equação do mundo, ─ Um
Mais um é igual a dois que é igual ao infinito─
O nome desta foto esse seria,
Pois um homem que olha outro [o outro!] no espelho,
Observa a observação da observação que se eterniza
Em si─ A duplicata do eu se duplicando!
─ Depois disto reforçaram meu café químico.








INSIGHT J. [DAS FORMAS B.]

Enquanto vislumbro o nó d’uma corda
Transcendente, com um gosto, ─ imagino─, de nunca mais,
Percebo no poeta que ali se tem pendurado
Um sorriso de canto e que se lê um “finalmente”.
Esta forma insistente apareceu pra mim,
Como se me questionasse,
Enquanto o poeta, como um pêndulo,
Dava sinistro sinal de vida.
Mais um espelho veio a minhas janelas.
─Reflexão outra da reflexão fiz.
Havia paz tanta depois do desespero derradeiro.
Como eu, ele sentiu o fado da cela
Fisiológica e moral─ passo a passo,
Até a visão definida do suicídio, só
Que mais vivo e mais morto voltei-me depois do meu.
Meu desespero nasceu,
O dele morreu.



(Continua...)