OFICINA DAS MAÇANETAS, ALUCINAÇÕES E VISÕES

OFICINA DAS MAÇANETAS, ALUCINAÇÕES E VISÕES

sexta-feira, 22 de julho de 2011

" A lógica do mundo── Um fio sempre se rompe."

MORTE QUE MATA

Dos fantasmas do cotidiano,
O que mais odeio
É o que nos diz não haver fantasmas no cotidiano,
Porque,
Nesse
Desesperado anseio de segurança provinciana,
Obcecado pelos demônios do caminho irônico do imutável,
De pouca beleza,
De pouca substância,
Tão embriagada sem embriaguez,
Que sussurram dos esconderijos da alma
Que não existem mitos em nossa cinzenta existência,
Que diz não recomenda o fumo, pois ele consome de te
A vida,
Quando na verdade só se vive quando a vida nos consome
Como um cigarro, paulatinamente, com quebradas de ritmos.
Que nos diz que o corpo é prejudicial a mente,
Que a vida só tem valor se durar,
Que não é impossível um outro universo dentro de nosso mundo,
Que a poesia não faz parte
Do pão nosso
De cada
Dia.

DAS TERRAS AZUIS, NA BALSA DO SEM CAIS.

                                  Um poema de garrafa
Pra contar com charme e malevolência, aos teus olhos de saudade, os absurdos marítimos,                                                    
                   de quem, com                                                                        
                                     O passado, sem corpo, sem tato, amou na ressaca do mar.
Para quem vendeu a estrela e sua morte ao desejo das águas sem cais, do vento
                           que nunca volta mais.
                                         Um poema de garrafa para ignorar oceanos de nostalgia,
E que te lebres que não só és tu e o teu copo, no meio do vazio, quando de teu navio, a lua e tempestade,
                                           Sejam únicos contigo, quando tu és o triste vigia, de uma
Noite de adeuses surpreendentes, numa noite de sobrevivência perdida contra o dono de nosso tempo.
                                               Um poema de garrafa, como um poema de partida,
─ Não o espere querida.]

quarta-feira, 20 de julho de 2011

O DEVIR─ O MUNDO

O mundo funciona
Como a fome de sua opulência,
O desejo de si mesma,
Boca que traga
Os próprios lábios,
Com a sensação recente
Do vomito futuro.

                        [A Nietzsche e Heráclito]

MEDO DE SER LIVRE [O HOMEM PRISIONEIRO DE SI NA MASMORRA DA FALSA MORAL]

                             A luz se apagou, não há um feixe de luz... Tudo é escuridão e conspira terror. Lugar sujo. Úmido. Várias passagens trancadas─ Faltam fôlego e leveza. Mas é preciso perfurar aqui, mesmo que não se possa rememorar um retorno! Pois aqui... Em algum compartimento escondem-se os meus depredados absurdos que eu devo cuidar, aprisionados pelo ancião da mente, o lobo que me vigia, o caçador que me mantém imerso a esta densa madrugada.
                             Posso ouvir seus berros de censura.
                             Ele parece estar vindo em minha direção!
                             A proibição está no meu encalço!                                                                                     
                             A escuridão torna-se mais voraz!
                             O har-magedon está  próximo!                                                                                                                                                                                                                                           
                             E de repente... As chaves romperam as portas, a luz invadiu penumbra do calabouço, agredindo-me de punho luminar as órbitas, revelando o meu carcereiro, zelador e sentinela de meus desejos. Tal foi a minha surpresa. Vi apenas um espelho defronte a porta.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

DO POVO VERMELHO

Nós somos da multidão
A cutícula púrpura,
Que vigia do interior das verrugas
Da terra.

Nós somos da inteligência
O conhecido recôndito,
Que camufla antigos e inocentes anseios
Da guerra.

Nós somos da neblina
O sonho verde,
Que ainda dança com fogo e as sombras
Da alma.

                                                 [ Ao Chefe Seattle e ao Poeta-xamã ]

A GRAÇA DA VIDA

Tempos de certeza na
Incerteza.
Subsisto como inseto
Cercando as grades da luz...
Parasita sem mar, sem vela,
Sem pedra, sem cruz.
Sou mártir sem consolo
Num vendaval de feras,
Sem conhaque e sem blues,
No abandono de meu desespero.
Sinto meu peito embrulhado,
Sem jeito no alheio,
Disparado no medo de acelerar.
A curva me atingiu,
Deste mundo tão belo e tão vil,
E de monstro seu que pariu
Forjou sua justiça e me cuspiu.
É tão honrosa a rosa
Espinhada que me trazeis,
Vida.


                                                                        [Ao filosofo-poeta, Nietzsche]

COVEIRO DE SI

Que cansaço vadio,
Que sono tão frio,
Que perdido vazio,
Que existir tão lívido,
Que trajeto varrido,
Que desejo deserto,
Que brilhante insucesso,
Que partido tão paralelo,
Que incerto inferno,
Que desengajo possesso,
Que voraz banguelo,
Que defunto sem terno,
Ah... Deus meu,
Que desarranjo confesso,
Que poeta perdido.

O VENTO VENTOU O VENTO

Dia de sol
E eu aqui dentro de mim,
A noite passou
E eu ainda não dormi.

Dia de sol
E eu ainda não estou aqui.
Sou leve como um pêndulo,
Que não governa mais aqui.

Minha morte
De antes de ontem,
Ainda segue viva dentro
De mim.

Mas não me roube
Como malandro,
Nem me tome
Como santo.

Sou o destino
Que não sabe pra onde seguir.

TODOS LOUCOS

                               É necessário apenas um pouco de sensibilidade para perceber que cultivamos uma insânia coletiva─ “Hospício global”, como definiu Augusto Cury. Mas talvez não seja tão fácil observar que há apenas dois espécimes de loucos primordiais, que desencadeiam os outros.
                            
                                Os primeiros são aqueles que alimentam o manicômio social. São aqueles que negam ferozmente suas loucuras. Dentro da mesma insânia, existem aqueles que fingem crer, e há os que iludidos pelos primeiros afundam na inverossímil e amarga sensação de “normalidade”, na fábula onde é possível a sensatez e o perfeito equilíbrio. São aqueles que pensam ter encontrado uma verdade eterna.


                                 O segundo grupo pertence a todos que estão a margem do primeiro─ Apenas friso esse raciocínio óbvio, que mesmo sem que eu precisa-se reafirmá-lo, o meu perspicaz leitor poderia elegantemente compreender, mas a necessidade da ênfase é a mesma da definição dos caracteres que diferem um do outro, pois estes “loucos” só são o que são por não serem loucos. Estes são os arquitetos do caos criador. São os que repugnam a sensatez, a perfeição, o equilíbrio. São os que pelejam contra aqueles que ao mesmo tempo são inimigos, são também seus irmãos de moléstia. São os que, enquanto caminham, poucos escutam seus passos, e é nessas pernas que repousa a sua credibilidade.
    
                                Os melhores sinônimos para gênio que conheço: louco, desregrado, maldito, tolo... Sim, porquê somente este tipo de perfil é capaz de negar o que é agressivamente vigente, trazendo ao mundo ainda anacrônico a sua nova vertigem, roubando do futuro uma estranha forma, soprando fôlego jovem, verde, em cima do que já existe─ É a única forma.

                               Caro leitor, avalie... Avalie bem e identifique em qual tribo de loucos você esta inserido.

POR QUE UM PORQUE ?

Calo-me.
A cachola voa.
A tinta tinge.
O papel encarna.
Eu apenas psicografo.
Não preciso de nada.
Nem que arrebentem um laço.
Traço... Traço...
Traço revelando vida.
Rabiscando o papel.
Sem preocupar-se com o gosto.
Seja chumbo ou mel.
Ainda que não tenha gosto.
Ainda que seja sem rosto.
Mesmo que não tenha céu.

Cenas entranhas.
Cenas conhecidas.
Cenas desajustadas e medidas:
Visitam minha caverna: poesia:
Qualquer coisa sem pernas─
Desde quando ela precisa se apoiar ?

O RELÓGIO E O CACHORRO LOCO

Enquanto isso
O relógio ainda bate
─ Tique taque, tique taque─
E o “polaco-louco”
Ainda late, late.

Enquanto isso
O relógio ainda bate
─ Tic tac, tic tac─
E o “polaco loco”
Ainda late, late...

                                [Ao saudoso Paulo Leminski]

O POEMA FALA

Os poemas são personificações divinas,
Que estão presentes em toda parte,
Em toda existência...
Estando assim em segredo por véu celeste ou infernal,
A espera de seus descobridores, sacerdotes e profetas,
Os poetas.


                                               [Devo aos saudosos Mário e Drummond]

QUE EGOÍSMO, HEIN!

                           “ Entenda o próximo “, de uma vez por todas quero destruir essa ideia atroz, pelo preconceito, pela mentira e pela arrogância que há desfarçada nela. Quando o individuo se baseia nesta premissa tão provinciana, ele esbarra nos grilhões da impossibilidade. Esta moral se sustém em alicerces que afirmam, de maneira cínica, só poder respeitar aquilo que se pode compreender, quando na verdade o legitimo respeito não pede justificativas. Essa doutrina é oriunda da necessidade que possui o homem e o impele a rotular, cercear, dominar, conhecer para que este saiba como lidar com aquele ou aquilo, conferindo poder a si próprio. ─A liberdade é possível, desde que ela também não precise fazer sentido. “

                                                      
[Cá com meus botões]

                          

O POETA E O JORNALISTA

                      A diferença marcante entre um poeta e um jornalista é de que o último tem uma necessidade menor pelas palavras, pois só recorre a elas para justificar uma visão sua de realidade. Enquanto que o poeta só precisa da idéia, de uma visão da realidade, ou uma visão do contrário, qualquer coisa que lhe couber, para justificar suas palavras.

                                                                                                                   
[Cá com meu botões]

Primeira vez

Andarilho pela noite,
A pensar se reencontrarei o teu olhar;
Ah menina tu me fazeis perguntar,
Será que isso é amar ?

Vasculho dias e noites na tua imagem,
Na medida em que descubro que me falta liberdade,
Não consigo me violar.
Será essa a doce sina de amar ?

Me transmitiu vida efêmero pelo olhar;
Pois quase morro como quase vivia devido à distância...
Ah... Quanta falta me há de causar!
É doloroso e gostoso te amar.

Tu és personificada a Vênus,
De todas, a minha maior carência,
No teu intimo sabe que estou a lhe perseguir....
Será esse o seu jeito de amar ?

                                                                   [ Devo aos meus românticos 14 anos ]
“Como os poetas,
Que se apaixonaram pelo suicídio,
Velhas cartas
Renascem um pretérito-novo assassino. “
                                                       


“ Sinto a cólera
Aflorar-me os instintos
─ Do assassino e do suicida─
Correndo como ácido.
─ É prazeroso...!
Ao ver a faca de ‘alguém’...
Ela me parece atraente... Tanto para mim
Quanto para ‘alguém’.
Não compreendo, a rigor, o que me invade.
Moléstia e morbidez que só é destinada a espíritos decadentes!
─ Diriam os poetas do ‘amor’.
Psicopatia ─ Ai... A simplicidade dos acadêmicos.
Obra do maldito ─ A ignorância dos religiosos.
Uma missão, um purificado estado primal, que morre nos outros,
Mas em mim vive com toda a violência do mistério ─ A meu ver!
O mundo é uma cova
E eu o coveiro.”



                                                                                              [ Devo a um livro que li ]