OFICINA DAS MAÇANETAS, ALUCINAÇÕES E VISÕES

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sexta-feira, 15 de março de 2013

EQUANTO O VENTO ME SOPRA A FRONTE

Ah, que és o Tempo que nunca sei...
Onde está?
No passado quando presente,
No presente quando passado...

Ah, que és o Vento que nunca sei...
Onde está?
Na brevidade com que dança o sino de porta
Escuta-se o mexerico das folhas de figueira,
                   Quando ele age
Na tempestade eólica dizima casa, edifícios,
Pessoas de todas as idades, paisagens de todas as grandezas.

Para pouca além do que conheço
Escuto o cicio do Vento.
Para mui além do que suspeito
Há o que o Vento segreda às flores.
E terrivelmente sinto que a Substância é mui,
Mui além, mui além...

O condor não sabe o que o sustêm intocável
Em seu vôo circular,
Em céu azul tranqüilo,

Como eu saberia ?

domingo, 20 de janeiro de 2013

ONDE O VENTO NÃO SOPRA

Quando eu ignorar os andamentos dos ponteiros do relógio,
Sem saber que o faço,
Quando não mais sofrer da vontade do Vento,
Que é soberano na suavidade quando me acaricia a fronte
                        Eternamente,
Como criança que ainda não respira,
                        Eu estarei inexpressivamente de acordo.

sexta-feira, 27 de julho de 2012


Pois sim, gosto do escuro,
Porque gosto dos lençóis,
Pois sim, tenho frio, tenho medo,
Tenho assombro do calor e da luz,

Da luz elétrica e da luz solar,
Da que alumia o rosto e
Da que espreita os ratos do espírito,
Da que olha e da que vê!

Sim, da luz, de toda e qualquer luz!

Tenho-me aqui, quietinho
A tecer emaranhados de aranhas,
A lograr mundos infinitos,
Bem agasalhado no escuro

Sem movimentos bruscos,
Sem voz que gargalhe ou chore,
Pois sim, tenho os tornozelos a ruir
E um destempero na alma,

Pois sim, preciso do escuro, amo-o!
Pois tenho medo de ver, de sentir a mim,
De sentir e ver a vida,
Que corre, corre e somente corre para além de mim.

Por isso, quero tudo menos a luz,
Menos o eu, menos o outro, que sente
E que respira e me vigia....

quarta-feira, 30 de maio de 2012


Todo movimento à consciência ou à inconsciência, todo gesto para a lucidez ou para o torpor, gera necessáriamente o protozoário do suicídio. O devir, única expressão justa que conheço sobre o sentido da vida, que carrega o movimento e seu contraponto, é um continuo diálogo simbiótico e ainda o motivo do caos. A luz e a sombra são comparsas de mesmo interesse. Sendo assim, o impulso suicida também, no seu ato, busca o mesmo que o instinto de preservação, não pretendendo, porém, a estética do absoluto, o atemporal e todo seu peso e sua natureza estéril. É a vida que nos intima, através do suicídio, a celebrar a tragédia, que a todo instante ocorre, a cada coisa que se evapora e vai encontrar outra forma de ser.

[Cá commeus botões]

sexta-feira, 18 de maio de 2012

CANÇÃO DO ESPÍRITO


Ó, Alma Augusta, não esmoreça diante do chão que se abre,
Ao cair de tuas ilusões de cetim.

O fauno dos primeiros folclores
Ainda embebeda-se e canta no jardim.

As formas do tempo decompositoras te enegrecem
 Os loiros cabelos da infância.

Os cabelos negros, enegrecendo-se mais, a cada crepúsculo
Dos teus deuses decadentes.

Mas a embriaguez, mesmo escassa, de agora,
Os sinos rompendo, bem de longe, em valsas,

São fantasmas da pureza de outrora,
Dão-te de Ícaro suas azas.

Então não te esmoreça estrela augusta,
Que o teu limbo ainda te espera num monte não muito alto.

AMOR MEU, MEU AMOR


Por Deus, amor meu,
Venha buscar-me pro outro lado,
Como tu ─A Deus!─ prometeu.

Por Deus, amor meu,
Que o peito meu, desesperado, esta selado,
Aguardando ─ Por Deus!─ o amor teu.

Por Deus, amor meu,
Há imenso pedaço de vão enclausurado,
Rezando ─ Á Deus!─ pelo amor teu.

Por Deus ou pelo Diabo, amor meu,
Venha tirar-me logo de baixo deste fardo
Que é existir ─ Obra de Deus ou Diabo!─ sem o amor teu.

quarta-feira, 28 de março de 2012

INEXISTENCIALISMO URBANO

De pensar não morro. De tanto morrer é que penso.
Outro dia de morte. ─ Me fuzila o despertador.

É hora chegada. Ônibus. Entro. Pago. Parto.
A luz queima solta por sobre as engrenagens urbanas,
Por sobre os cadáveres ocupados e apressados,
Sem lua, que com meu desejo dorme,
Enquanto cansado
Sigo contrariado,
Deveras contrariado

Que nem lá nem cá vivo─ O contra-senso do produto social ambulante.
Voam ociosas aves, entre o céu e o mar, no oco idílico, redundantes,
Não me sabem, as meninas que desvirginam de cor a pele, que na luz arde,
Não me sabem, o vento que alivia a paisagem, a luz que solta arde,
Não me sabem.
Não me sabem os multe celulares, as nuvens de satélites,
Redes emaranhadas de fios e sem fios, e-mails, operadores urbanos,
Engrenagens, nem as engrenagens me sabem.

Existo extinto, apenas no parafuso da morte cívica.

Vaga em mim, cheio, o oco do mundo, vão do eu universo.
Coluna, alicerce desse desejo Oasis, miragem do mundo questão,
Empalhador sensitivo e loquaz, que se agiganta em nossa pequenez.

Oh... Mundo questão, mundo idéia, mundo erro,
Será que alguém me deixou um e-mail?

.......................Será que alguém me deixou um e-mail ? .............. Será...
Será que ninguém me deixou ao menos um e-mail ? ...............
...............................................................

[Ecoa na imensidão do eu a indagação que circunda em cada solitário
Componente da grande rede urbana, surda, cega, muda e ausente de troca,
No grande espaço de sensação atemporal, grave, e faminto de almas,
enquanto a pergunta se inter-dimensiona, se extrapola preenchendo o
silencio que a acompanha, só.]