OFICINA DAS MAÇANETAS, ALUCINAÇÕES E VISÕES

OFICINA DAS MAÇANETAS, ALUCINAÇÕES E VISÕES

terça-feira, 6 de setembro de 2011

                    "A cada cigarro um poema. Ao todo um maço... Escutar
o resmungo do fumo enquanto ele queima é tão prazeroso quanto fumá-lo...
                    Ahh... Um cigarro que seja consumido tão veloz quanto a idade de matusalém.
Será que respiro ?"

[Cá com meus botões]
Pretendo, eu, com meus arrojos
De suicídios desesperados,
Atormentar o futuro, projetando,
O que de mim restar, sem limites,
Meus fantasmas aos homens que
Estarão à frente de meu velório─ Estarei,
Uma vez mais,  no desconhecido, no imensurável.

             
                   "Aquele que cultiva suicídios sempre conseguirá
Resplandecer-se vivo."

[ Cá com meus botões. ]

POESIA

Por vezes, uma banalidade
Trajada de uma tempestade
De palavras.

NA OFICINA

Penetra ela ávida
Na noite de pensamentos meus
P’ra, implorando, não ser mais que símbolos no vazio.
                                       Copo dividido, desmembrado de susto.
Todas as vozes esbórnicas,
Eufóricas, todas em mesmo paralelo espiritual.
─ Estamos bêbados,
Janis sussurra seus berros ao fundo,
Isto é um bar!

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

A realidade já estava desnuda e bronzeada por tal
Investigador voraz, loiro, de todo santo dia.
O céu já era tão claro, mas não aquecia,
Ainda acordada uma certa tristeza e o vento ainda era úmido
Como a chuva
Que cochichou contra o silêncio da última madrugada─ Fora
Os santíssimos mendigos nossos
De toda madruga.
{Não dormi ou inda não despertei}
                                       Sei [só]
Que não cessei eu da vida para o descanso.
Alguns passantes com seus restos de cabelos sem cor
Arrastam-se a igreja, murmurando seus primeirúnicos
E inusurpáveis, desde certa degeneração,
Fiapos de prosa, afinal sempre são
Sempre a mesma coisa de sempre. ─ Provincidemônicos
Eis o que são.
Penso em meu pensar.
Pálpebras cansadas de tanto vigiar,
Sem saber se caí ou trepa em mim
O sono.

QUANDO A NOITE NÃO QUER TEU SONO

Noite que conspira tudo. ─
Vícios imundos,
Ruas sem geografia, corte da
Estrela vagabunda,
Na fome
Da vida.
             Ó, o querido amigo
Desvia
             Pelo beco da morte
Em vida.

Não forjes tua escuridão, quando a há lua alta,
No ostracismo doméstico de tua cova
                         Endereçada.
                                            Não sinta apenas o ar,
Coleciones no imensurável
Os suicídios,
                      Nos abismos e labirintos da vida,
Nas caçadas epifânicas.
                    Felinicas, etc,
                     Divinas da vida.
Não somente viva... Viva!

terça-feira, 2 de agosto de 2011

DE VOLTA AO C.A.

              Queria, eu, de fato escrever uma carta de amizade distante, lá dos pátios da infância, do primeiro colégio. Tive minhas primeiras vertigens artísticas naquele gigantesco curral de mentes, e então por isso suas amarras não me foram palhas. Mas lá também tive o meu primeiro confidente e, logo de susto, frustração tão doce que mesmo tão outro moço ainda se sente, a minha primeira miséria. Sim miséria digo eu, como poderia dizer amor. E lá nos meus confins criativos forjava flores, desenhos, presentes de legítimo artesão, para que meu leal cúmplice, Fosse confiar ao julgo daquela que me trouxe tanta pobreza, enquanto eu esperava o seu deleite e gratidão que nunca visitaram-me, doce vadia─ Que me acreditem mais na piada do que no insulto─ Mas tinha bem maior eu, tinha um amigo de lembrança infinita, um comparsa sem interesses. 
              Não vão tão longe os anos, mas que vão anos vão. Hoje tenho eu meus dezenove verões, e que verões, o quanto já me rejuvenesceram. Por que ruas estará vagando Davi, que nunca mais o vi ? Não consigo ressuscitar os últimos registros memoriais que mastigamos juntos.
               Naquela época, tinha ele uma estatura de pouco alcance, cabelos... Não sei se lisos ou crespos, se castanhos ou verdadeiramente negros... Lembro-me bem é dos olhos, olhos de desinteresse, bem lesos mesmo, pareciam planejar outras empresas além do estudo, queriam descansar, é, é isso, queriam espreguiçar bem a sua preguiça intelectual. De fato muito engraçado.
              Repensando esta fase primeira de minha consciência, indagando sobre este primeiro amigo, me aflige não saber por onde anda alguém que já foi tão meu, algo que me envelhece e me faz descansar naqueles bosques, que me retrocede aos primeiros vagidos da existência, afinal é uma urgência de todos os tempos futuros a este. E mais, se tanto me pergunto sobre as ruas que são donas de Davi, é justamente porque não sei em que ruas estou andando? É como querer encontrar Davi para não mais me perder? Faz sentido esse raciocínio?
              É interessante o medo que segredamos, por vezes, em alguns cenários, nas perguntas tão desesperadas. Impressionante como certas lembranças, bem menos frementes, nos dão a sensação de poder, pois é um tempo que longe voa e não mais lança suas mãos de ventriloquista. Verdadeiramente intrigante como tentamos nos refugiar no que não mais vigora quando o vento não é bom.
               Voltando a minha história contemporânea a de Davi, lembro que tínhamos contra-pontos no comportamento. Davi comia a merenda da escola, eu não, achava aquilo tudo um pouco nojento, com crianças melequentas que me fechavam o apetite. Gostava eu de desenhar e jogar bola, ele preferia soltar pipa, de rueiro que era, e rodar pião. Gostava ele de correr por todo o colégio, eu preferia ler uma curta estórinha. Não me vejam como criança fresca, mas é que conheci a liberdade da rua somente com oito anos. Gostávamos muito de assistir aos animes da época, único ponto consensual, mas é deveras insuficiente para levantar uma amizade que se pendura sem esforço no relicário da saudade. Difícil perceber no adulto o mesmo senso de respeito ao outro que possuíam aquelas duas crianças que se perderam, há tempos, juntas.
                É... Naquelas ambições patéticas, se é que haviam ambições, não compreendia eu uma necessidade primitiva, inconsciente, pelas palavras. Não obcecava a maldição, nem tinha ciência de tal. Não ouvia esse ultimo apelo das palavras que descubro, essa insistência que elas tem em querer ser cantadas, acompanhadas de um arranjo sem preconceitos, verdadeiro. Não era tão lisérgico, nem tão inseguro. Hoje sou outro, como amanha não mais me reconhecerei. Medo e coragem, dor e prazer, sinto eu quando penso na vida, e num súbito e curto momento de vitória medrosa, me perguntei o que houvera com Davi.
                Vá lá Davi, que a idade não parou, apenas eu que senti, por um pensamento, a vertigem do abismo que é a vida real.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

" A lógica do mundo── Um fio sempre se rompe."

MORTE QUE MATA

Dos fantasmas do cotidiano,
O que mais odeio
É o que nos diz não haver fantasmas no cotidiano,
Porque,
Nesse
Desesperado anseio de segurança provinciana,
Obcecado pelos demônios do caminho irônico do imutável,
De pouca beleza,
De pouca substância,
Tão embriagada sem embriaguez,
Que sussurram dos esconderijos da alma
Que não existem mitos em nossa cinzenta existência,
Que diz não recomenda o fumo, pois ele consome de te
A vida,
Quando na verdade só se vive quando a vida nos consome
Como um cigarro, paulatinamente, com quebradas de ritmos.
Que nos diz que o corpo é prejudicial a mente,
Que a vida só tem valor se durar,
Que não é impossível um outro universo dentro de nosso mundo,
Que a poesia não faz parte
Do pão nosso
De cada
Dia.

DAS TERRAS AZUIS, NA BALSA DO SEM CAIS.

                                  Um poema de garrafa
Pra contar com charme e malevolência, aos teus olhos de saudade, os absurdos marítimos,                                                    
                   de quem, com                                                                        
                                     O passado, sem corpo, sem tato, amou na ressaca do mar.
Para quem vendeu a estrela e sua morte ao desejo das águas sem cais, do vento
                           que nunca volta mais.
                                         Um poema de garrafa para ignorar oceanos de nostalgia,
E que te lebres que não só és tu e o teu copo, no meio do vazio, quando de teu navio, a lua e tempestade,
                                           Sejam únicos contigo, quando tu és o triste vigia, de uma
Noite de adeuses surpreendentes, numa noite de sobrevivência perdida contra o dono de nosso tempo.
                                               Um poema de garrafa, como um poema de partida,
─ Não o espere querida.]

quarta-feira, 20 de julho de 2011

O DEVIR─ O MUNDO

O mundo funciona
Como a fome de sua opulência,
O desejo de si mesma,
Boca que traga
Os próprios lábios,
Com a sensação recente
Do vomito futuro.

                        [A Nietzsche e Heráclito]

MEDO DE SER LIVRE [O HOMEM PRISIONEIRO DE SI NA MASMORRA DA FALSA MORAL]

                             A luz se apagou, não há um feixe de luz... Tudo é escuridão e conspira terror. Lugar sujo. Úmido. Várias passagens trancadas─ Faltam fôlego e leveza. Mas é preciso perfurar aqui, mesmo que não se possa rememorar um retorno! Pois aqui... Em algum compartimento escondem-se os meus depredados absurdos que eu devo cuidar, aprisionados pelo ancião da mente, o lobo que me vigia, o caçador que me mantém imerso a esta densa madrugada.
                             Posso ouvir seus berros de censura.
                             Ele parece estar vindo em minha direção!
                             A proibição está no meu encalço!                                                                                     
                             A escuridão torna-se mais voraz!
                             O har-magedon está  próximo!                                                                                                                                                                                                                                           
                             E de repente... As chaves romperam as portas, a luz invadiu penumbra do calabouço, agredindo-me de punho luminar as órbitas, revelando o meu carcereiro, zelador e sentinela de meus desejos. Tal foi a minha surpresa. Vi apenas um espelho defronte a porta.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

DO POVO VERMELHO

Nós somos da multidão
A cutícula púrpura,
Que vigia do interior das verrugas
Da terra.

Nós somos da inteligência
O conhecido recôndito,
Que camufla antigos e inocentes anseios
Da guerra.

Nós somos da neblina
O sonho verde,
Que ainda dança com fogo e as sombras
Da alma.

                                                 [ Ao Chefe Seattle e ao Poeta-xamã ]

A GRAÇA DA VIDA

Tempos de certeza na
Incerteza.
Subsisto como inseto
Cercando as grades da luz...
Parasita sem mar, sem vela,
Sem pedra, sem cruz.
Sou mártir sem consolo
Num vendaval de feras,
Sem conhaque e sem blues,
No abandono de meu desespero.
Sinto meu peito embrulhado,
Sem jeito no alheio,
Disparado no medo de acelerar.
A curva me atingiu,
Deste mundo tão belo e tão vil,
E de monstro seu que pariu
Forjou sua justiça e me cuspiu.
É tão honrosa a rosa
Espinhada que me trazeis,
Vida.


                                                                        [Ao filosofo-poeta, Nietzsche]

COVEIRO DE SI

Que cansaço vadio,
Que sono tão frio,
Que perdido vazio,
Que existir tão lívido,
Que trajeto varrido,
Que desejo deserto,
Que brilhante insucesso,
Que partido tão paralelo,
Que incerto inferno,
Que desengajo possesso,
Que voraz banguelo,
Que defunto sem terno,
Ah... Deus meu,
Que desarranjo confesso,
Que poeta perdido.

O VENTO VENTOU O VENTO

Dia de sol
E eu aqui dentro de mim,
A noite passou
E eu ainda não dormi.

Dia de sol
E eu ainda não estou aqui.
Sou leve como um pêndulo,
Que não governa mais aqui.

Minha morte
De antes de ontem,
Ainda segue viva dentro
De mim.

Mas não me roube
Como malandro,
Nem me tome
Como santo.

Sou o destino
Que não sabe pra onde seguir.

TODOS LOUCOS

                               É necessário apenas um pouco de sensibilidade para perceber que cultivamos uma insânia coletiva─ “Hospício global”, como definiu Augusto Cury. Mas talvez não seja tão fácil observar que há apenas dois espécimes de loucos primordiais, que desencadeiam os outros.
                            
                                Os primeiros são aqueles que alimentam o manicômio social. São aqueles que negam ferozmente suas loucuras. Dentro da mesma insânia, existem aqueles que fingem crer, e há os que iludidos pelos primeiros afundam na inverossímil e amarga sensação de “normalidade”, na fábula onde é possível a sensatez e o perfeito equilíbrio. São aqueles que pensam ter encontrado uma verdade eterna.


                                 O segundo grupo pertence a todos que estão a margem do primeiro─ Apenas friso esse raciocínio óbvio, que mesmo sem que eu precisa-se reafirmá-lo, o meu perspicaz leitor poderia elegantemente compreender, mas a necessidade da ênfase é a mesma da definição dos caracteres que diferem um do outro, pois estes “loucos” só são o que são por não serem loucos. Estes são os arquitetos do caos criador. São os que repugnam a sensatez, a perfeição, o equilíbrio. São os que pelejam contra aqueles que ao mesmo tempo são inimigos, são também seus irmãos de moléstia. São os que, enquanto caminham, poucos escutam seus passos, e é nessas pernas que repousa a sua credibilidade.
    
                                Os melhores sinônimos para gênio que conheço: louco, desregrado, maldito, tolo... Sim, porquê somente este tipo de perfil é capaz de negar o que é agressivamente vigente, trazendo ao mundo ainda anacrônico a sua nova vertigem, roubando do futuro uma estranha forma, soprando fôlego jovem, verde, em cima do que já existe─ É a única forma.

                               Caro leitor, avalie... Avalie bem e identifique em qual tribo de loucos você esta inserido.

POR QUE UM PORQUE ?

Calo-me.
A cachola voa.
A tinta tinge.
O papel encarna.
Eu apenas psicografo.
Não preciso de nada.
Nem que arrebentem um laço.
Traço... Traço...
Traço revelando vida.
Rabiscando o papel.
Sem preocupar-se com o gosto.
Seja chumbo ou mel.
Ainda que não tenha gosto.
Ainda que seja sem rosto.
Mesmo que não tenha céu.

Cenas entranhas.
Cenas conhecidas.
Cenas desajustadas e medidas:
Visitam minha caverna: poesia:
Qualquer coisa sem pernas─
Desde quando ela precisa se apoiar ?

O RELÓGIO E O CACHORRO LOCO

Enquanto isso
O relógio ainda bate
─ Tique taque, tique taque─
E o “polaco-louco”
Ainda late, late.

Enquanto isso
O relógio ainda bate
─ Tic tac, tic tac─
E o “polaco loco”
Ainda late, late...

                                [Ao saudoso Paulo Leminski]

O POEMA FALA

Os poemas são personificações divinas,
Que estão presentes em toda parte,
Em toda existência...
Estando assim em segredo por véu celeste ou infernal,
A espera de seus descobridores, sacerdotes e profetas,
Os poetas.


                                               [Devo aos saudosos Mário e Drummond]

QUE EGOÍSMO, HEIN!

                           “ Entenda o próximo “, de uma vez por todas quero destruir essa ideia atroz, pelo preconceito, pela mentira e pela arrogância que há desfarçada nela. Quando o individuo se baseia nesta premissa tão provinciana, ele esbarra nos grilhões da impossibilidade. Esta moral se sustém em alicerces que afirmam, de maneira cínica, só poder respeitar aquilo que se pode compreender, quando na verdade o legitimo respeito não pede justificativas. Essa doutrina é oriunda da necessidade que possui o homem e o impele a rotular, cercear, dominar, conhecer para que este saiba como lidar com aquele ou aquilo, conferindo poder a si próprio. ─A liberdade é possível, desde que ela também não precise fazer sentido. “

                                                      
[Cá com meus botões]

                          

O POETA E O JORNALISTA

                      A diferença marcante entre um poeta e um jornalista é de que o último tem uma necessidade menor pelas palavras, pois só recorre a elas para justificar uma visão sua de realidade. Enquanto que o poeta só precisa da idéia, de uma visão da realidade, ou uma visão do contrário, qualquer coisa que lhe couber, para justificar suas palavras.

                                                                                                                   
[Cá com meu botões]

Primeira vez

Andarilho pela noite,
A pensar se reencontrarei o teu olhar;
Ah menina tu me fazeis perguntar,
Será que isso é amar ?

Vasculho dias e noites na tua imagem,
Na medida em que descubro que me falta liberdade,
Não consigo me violar.
Será essa a doce sina de amar ?

Me transmitiu vida efêmero pelo olhar;
Pois quase morro como quase vivia devido à distância...
Ah... Quanta falta me há de causar!
É doloroso e gostoso te amar.

Tu és personificada a Vênus,
De todas, a minha maior carência,
No teu intimo sabe que estou a lhe perseguir....
Será esse o seu jeito de amar ?

                                                                   [ Devo aos meus românticos 14 anos ]
“Como os poetas,
Que se apaixonaram pelo suicídio,
Velhas cartas
Renascem um pretérito-novo assassino. “
                                                       


“ Sinto a cólera
Aflorar-me os instintos
─ Do assassino e do suicida─
Correndo como ácido.
─ É prazeroso...!
Ao ver a faca de ‘alguém’...
Ela me parece atraente... Tanto para mim
Quanto para ‘alguém’.
Não compreendo, a rigor, o que me invade.
Moléstia e morbidez que só é destinada a espíritos decadentes!
─ Diriam os poetas do ‘amor’.
Psicopatia ─ Ai... A simplicidade dos acadêmicos.
Obra do maldito ─ A ignorância dos religiosos.
Uma missão, um purificado estado primal, que morre nos outros,
Mas em mim vive com toda a violência do mistério ─ A meu ver!
O mundo é uma cova
E eu o coveiro.”



                                                                                              [ Devo a um livro que li ]

segunda-feira, 20 de junho de 2011

RODOVIÁRIA DE PAIXÕES

Bêbado, incerto, tropeço,
Caído...
Revelado, ferido, raivoso,
Vingativo...
Depois
Invejoso, bandido, munido,
Destrutivo...
E então novamente
Aturdido, esquivo, perdido,
Enfim...
Foragido.
Ah... Esse meu desejo agressivo,
Faminto,
Uma rodoviária de paixões...

Um errante, e
Seu perfeito desfecho
De calhorda relapso,
Deslocado,
A piada repetitiva
Do amor moralizado
Banalizado,
blá, Blá, blá, blá...
Ah... Esse meu desejo agressivo,
Faminto,
Uma rodoviária de paixões...

quarta-feira, 15 de junho de 2011

ROMPENDO O TÉDIO[VAMOS AO LAGO]

Hoje acordei torto,
Minha moça,
Com o desejo
De desorientar tua toca,
Te incitando surpresa no olhar
E alguma vontade na boca.

Hoje acordei outro,
Minha moça,
Querendo redescobrir
Sua beleza de mulher,
Incendiar tua roupa,
E desunindo as tuas coxas,
Te chamar de louca, louca, louca!

Hoje acordei estranho,
Minha moça,
Necessitando ficar chapado,
Pernoitar ao teu lado,
Pender as asas pra voar
Como um ser alado,
Buscando a ambrósiado passado.

Hoje acordei esquisito,
Minha moça,
Ressuscitando você e eu
Na excitante jornada
Pela liberdade no acaso,
Te convidando a procurar
O caminha para o antigo lago.

ME ACORDA A MADRUGADA

O celeiro do vagabundo,
Por trás de um
Um olhar sonolento, fervilha.

Resquícios de palavras soltas,
Resíduos instrumentais,
Ecos doentios de criatividade...

[...]

Escutam isso ?
Parece ter sido uma cisão
Da gritaria no celeiro,
Mas só parece...

Comer um pão com sabor
De madrugada...

A esquizofrênica do farol
Já delirou. ─ O outro
Lado fervilha, fervilha, fervilha!
Com a liberação sinestésica
Da poesia.
Inescrupulosa e violenta a liberação
Da poesia.



A DERIVA NO MAR DA MORENA

Eu chorei um mar, por você, meu bem.
E quantas rosas te daria, se tu quisesse!
Mas tanto me ignora e me entristece
Que só quereis a rosa que em teus seios já
Adormece.
Desdenho do meu calor, tu resplandece.
Germe de minha dor, que floresce.
Embebedado de teu mal-amar...
Não mais buscar no futuro teu olhar
O sentimento que nele
Desconheço.


AO MEU BRASIL!

Ando pelas ruas
Com as retinas nuas,
Por onde passo
Sinto fedor de marasmo,
Duma gentinha
Sem título e sem nome,
Fingindo alegria
Num curral de fome.

Ideal tropical
Escondendo com praias e bundas
O que escorre
Bem de pressa pra dentro
Do esgoto!

─ Vontade de desertar,
Desistir, sei lá...

Tristonhos sorrisos burros,
Definhando com confetes de cocaína,
Todos os personagens,
Aplaudidos num tardio
Fim.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

ERIC DRAVEN

Mais um maldito se levanta,
Rasgando a terra da morte,
Cambaleante – Chuva grinalda
Da noite absurda, combinam –
Com a morte em seus ombros,
Já sem sangue, derrotada.

Ele voltou a cidade de ruínas.
Trás consigo a vingança
Do diabo.-- Canções de vertigem
E corvos vociferam—E rastejando
Pelos restos da cidade,
Que em cinza e vermelho se
Prepara pra guerra.

Contorciam-se em suas sinapses
Visões de sua primeira morte,
Perturbando – A queda no infinito
Abismo diabólico, a margem –
Gritava, num gesto de existência,
Como se fosse um suicídio.

VIDA QUE SEGUE

Do aviso ignorado
Se refez o vagabundo.
O ponto fixo
Se contorceu lado a lado,
E pendeu avulso,
Sumiu.

E outra vez, bem talhado,
O ultimo crepúsculo,
Disse não mais me alertar...

Vociferou mais um lobo,
Na estrada
De minha estrela
Desleixada.
Correndo enquanto ar ainda
pulsa, mesmo em derrames,
O elixir púrpura.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

ESTRELA

Codinomes simbióticos, lúcidos
Alucinógenos, códigos pernósticos,
Em viçoso chão-mágico, afrodisíaco,
Embebedam em ósculos,
Pelo inferno-celestial, o místico.
Monstruosos serafins,
Diabólicas auréolas,
Aprisionavam, sem perspectiva,
A gruta de sonhos tribais, excitada,
Inflamada de convulsões alcoolizadas,
Acumuladas da velocidade da
Intuição! A morada do místico.

Vaga um pretexto no ar, enxurrado pelo vento!
E sem firmeza nas pernas, arrastando ao sombrio,
Pela fé, negado seu direito, só com orações,
Em constantes suicídios, além do desconhecido,
Se larga ao desabrigo Um
Trágico! Claro... Claro! Sua estrela...
A sua estrela é sem fim! Sem fim! Sem fim!

domingo, 8 de maio de 2011

INSTINTO IMORTAL

Eu serei de novo o que será.
                       Minhas vestes coloridas sem cor,
                       Dúbias de raríssimo jeito e valor―
Corpos que se entrelaçam num
Êxtase estático-fluido,
                                                 Anjinhos, crianças que nunca
Nasceram.

Precisarão de me desfazer
A cada dia de poesia,       
                                                 Pra perceber o que eu não sou,
Leve ou pesado,
A âncora ou rabo. O movimento parado ?
                                                                       [?]
Alérgico a fotografias eternas
Imune a formas que envelhecem perpétuas.
― Sempre, sempre a mesma cousa outra,
                                                                  Uma roda viva, águas de estações
Criativas, negro mar que cega o olhar.
Sempre, sempre, aos olhos eternos, uma vaga lembrança.
Que me matem mil vezes
A cada suicídio meu!

terça-feira, 3 de maio de 2011

POÇO

                                                              Lá, em meu paraíso infernal... Logo além dos túneis, dos casebres de verdes motivos,
                            As chamas trucidam a lógica militar, fardada de obrigações, imposições
Cheias de impostos e seqüestros!
                            Difícil é descobrir as cercas dos elementos, sapientíssima loucura! Belo e feio? Imensos buracos de flores enfeitados, bueiros aromáticos, jardins de doces tormentos, e bosques sedentos de ardiloso bem-querer. Ah! Quem me dera
                                                                                                    Trazer a tona todos os solecismos geniais, incorporados de uma demência ancestral,
                             Insólitos como a pedra que chora nos recantos musicais do Grand Cayon. Mas... Percebo que no tédio das medidas voadas, certos esconderijos, não se realçam na percepção solar de minha busca,
                              Ao fundo, ao fundo do profundo, no ruído de lâmpadas quebradas,
Sem a ânsia, a angustia que tem ciúmes do mundo O conceito maior, o pictograma imperscrutável.
                                                              Lá, em meu paraíso infernal!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

QUANDO NÃO HÁ BELEZA NA LUA

Miolo de palha seca
Arrastado pelos ventos
Que vagueiam ruindo
Pelas arestas urbanas,
Das ruas, que se fazem ermas
Em sua solitude vaidosa,
Enroscadas em vestígios
De saliente oração medonha
Suplicando por tragédia No
Sussuro das formas
Cria-se uma sinfonia dramática
Onde a pá do coveiro dita o ritmo
Pela calada da noite soturna,
Onde o lacaio do cemitério à espreita,
Ansioso, junto aos corvos,
Aguarda para saciar
Sua sede e a de seu mestre.
Resta-nos esperar pelo sol.



RETRATOS ESPALHADOS

Do outro me veio um verso,
De estranho conhecido que eu merso,
É revelado texto fugido meu, possesso,
Um tímido e recatado pluriverso,
Minha incorpórea sexualização d'outro universo,
Agora em mim tem seu gesto anexo.

O desleixo que se trai n'outro olhar
Estará configurando outro perfil meu ?
Meu suicídio, que depois quero matar,
Deseja desnudar o frontispício escuro teu,
Que me sorve... Abusa de me revelar
Ainda mais do que eu.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

PRINCIPIO NOSTÁLGICO

O olhar tão triste
E calado, entretido no vago,
Sozinho, percebe vexado,
A decepção, num querido,
Mal-olhado, e,
O trejeito culpado que
Se despede crispado
E acanhado, se encerra,
Do monólogo.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

TÉDIO

Enclausurado por obrigações
De uma condição estereotipada,
E nas fendas do tempo
Só me resta o cansaço.

No ostracismo
De uma empobrecida guisa.
A claustrofobia
De uma apologia antinatural.

Aborrecendo estou.
Lenta fadiga
Me elucida os fantasmas
De outrora  Sem ninguém
Pra rasgar leve balela
E exilar os exílios,
Afogar os peixes
Das palavras cuspidas ao vento
me mato em silêncio.

CÁ COM MEUS BOTÕES

“A verdadeira poesia respira... Exige música!  O resto é utopia artística!”

“Nietzsche escrevia de pau-duro!”

“Na Lapa, cidade quase abstrata, poesia e música desferem violentos murros  Brindemos à minha desgraça geográfica.”

“Na busca pelo ideal até os analfabetos tem um bocado de Platão.”

“Sempre sonhei com o poeta, num aspecto social, como uma lei natural percebida por todos, tornar-se um principio cotidiano, uma figura de esquina.”

“A poesia não é fumaça nem fogo, pelo menos não em definitivo.  A poesia é uma ‘cousa outra’.”

“Uma banda como White Stripes, só o essencial. Uma outra como Radiohead, uma materialização do surreal  Extremos da arte!”

“Uma idéia genial é uma foda do material com o imaterial, resultante da combinação entre o conhecido e o desconhecido, uma travessia à 'porta'. O que existe e o que existirá.”

“Como é bom quando as coisas são negras e belas. Também é bom quando nada se entende, e, mesmo assim, há gosto na experiência.”

“Num bar qualquer de esquina. Múltiplos perfis sociais bebem, mas só alguns se escondem, enquanto outros se entornam.

             Ei, chi... Eles podem te ouvir!
             Foda-se..., porra!

Eis a poesia. Amém!”

“Não me dupliquem no espírito, nem me reproduzam na forma. O poeta é o poeta.”

“A inteligência do corpo é tal que não é viável sua explicação.”

quarta-feira, 27 de abril de 2011

DESEJO DOS LOBOS

Os cilíndricos lados
Do corte.
Os cilíndricos lados
Da morte.
Os cilíndricos lados
Da sorte...
Todos luzir vão nos ângulos
E ecoar suas substâncias, e sê-los
— De outras matérias escoar
Os mesmos.

O lobo das várzeas de tristeza,
No lodo
D'outro mundo, ferido de beleza,
Copula,
Tecendo com leveza de clareza,
Na xepa,
Anêmico de canônica pureza
— Da fonte, ele é a cede que se oculta
Em cada maldito.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

DA ARTE POÉTICA ?

Não-linear fonte trebada
Surta de envenenada abstração,
Querendo sair do limbo,
Enquanto o maldito toca um blues,
No silêncio de um mundo outro
É difícil saber quem ao outro
Suplicou. Um subjacente desejo de
Trocar os destinos ?
Indagam-se: “Quem é este?”
“ Quem é esta?” e continuam:
“ Será essa que por instantes serei?”
“ É por este que eu devo me trocar?”
Entreolham-se, analisam-se, e, enfim,
Enamoram-se das novas mascaras,
Que ardem sobre conteúdo púrpura.
 Um cumprimento do poema e vive o poeta ?

terça-feira, 5 de abril de 2011

DE NOSSAS MENTIRAS

Nosso achado na pólvora,
                      E o conforto do poder, logo ao nariz...
Depois veio Robespierre,
                      E deu um devido motivo ao fim da magia...
Deu inicio aos campos de almas,
                      Pois o corpo não encontrava necessidades...
A sala esta cheia de cérebros
                      Fedendo... E obesa de circuitos e dados e fardos...
Sentamos agora em cadeiras,
                      Tronos elétricos com botões nas mães eleitas...
E logo em seguida para a evolução,
                      Desabrochou como um lótus infernal,
As sonâmbulas suásticas, burras-loiras,
                      Pois cuspiram Zaratustra pensando em Nietzsche,
Quando, ao buscar a virtude, não via mesma flor...
                       À frente Hitler e sua manada de fracos,
Foram surpreendidos incendiando
                      Os livros que trucidariam a verdade de medo ariano...
E então veio luz “ divino-cristã”,
                      Cristalizando aoutocompaixão e vitimização,
[cenário ideal] nas profecias !